quarta-feira, 22 de abril de 2009

MISSA DAS DEZ NOS ANOS DOURADOS

CONTO COLOCADO EM 2º LUGAR NA ANTOLOGIA “ De um Berço Estranho nascem contos e poemas” – CATEGORIA PROSA.
GUSTAVO JOVELINO CORRÊA NETO – PRETENSO AUTOR – PRÊMIO JOSÉ AFRÂNIO MOREIRA DUARTE.
COMENTÃRIOS DE ANA TEREZINHA FRANCA DRUMOND MACHADO.
“No segundo conto – Missa das Dez nos Anos Dourados -, GUSTAVO JOVELINO CORRÊA NETO aflora lembranças de situações de sua época e , a partir delas, cria uma crônica, ora com um doce tom jocoso, ora com colocações saudosistas e retrata o cotidiano de sua cidade com salpicos de mineiridade quando diz: A roupa era caprichada! Era a famosa roupa de ver Deus! As garotas com os cabelos que mais pareciam caixa de marimbondos, amparados pelo laquê, de perfume delicioso, os melhores vestidos, , os melhores sapatos, missal, terço e véu – ficavam ainda mais inatingíveis”.

MISSA DAS DEZ NOS ANOS DOURADOS – 1960
CONTRASTE – AMOR E REVOLUÇÃO.

Autor - GUSTAVO JOVELINO CORREA NETO 2.006

Tinha eu 16 anos , quase início de uma adolescência feliz, cheia de novidades, de namoradas bonitas. Eu me reporto a essa época e passo a vivê-la como se fosse hoje. As lembranças surgem aos borbotões – lembranças essas quase todas só boas. O primeiro flerte, o primeiro amor, as primeiras sextas-feiras, onde mais se namorava do que rezava, o mês de maio, onde as meninas transmudavam-se em anjos, o que já eram na vida real.
Mas o que mais me marcou foi a missa das dez, que acontecia aos domingos.Era um verdadeiro acontecimento social e de fé. As moças. As mulheres, as garotas, os homens e nós os pretensos bonitões, com os cabelos cheios de “Gumex” e topetes do tamanho da pirâmide de Queops.
A roupa era caprichada – era a roupa de ver Deus. Os cabelos das garotas eram “sui generis” e eram uma ode ao espírito divino. Com um delicioso cheiro de laquê que armavam os cabelos ao gosto das meninas. Nem se fale nos vestidos, nos véus, nos missais que as tornavam ainda mais chegadas ao céu do que à terra e ainda mais inatingíveis.
Os rapazes que calça quinada, camisa bem passada e engomada e o indefectível paletó que não eram dispensados na missa das dez, em respeito ao criador. Isso sem se levar em conta a vontade de chamar a atenção das garotas, todas lindas, bem arrumadas e penteadas à moda.
Na época, padre celebrante era o inesquecível Mons. Rafael, que além de amar Alvinópolis, amava a juventude e o sacerdócio. As suas pregações tinham um conteúdo evangélico – econômico – satírico, que provocava riso e prendia a atenção de todo mundo.
É necessário explicar que a missa das 10 tinha um ritual e um carisma ímpar. Era precedida pelas 10 badaladas do relógio da matriz. Logo após, de dentro da igreja, o sacristão, através de uma corda repicava insistentemente os sinos anunciando que a missa ia começar.
Quase sempre a igreja estava lotada de jovens engomados, perfumados e de olho em suas queridas amadas. Naquele tempo namorava-se mais com os olhos do que com as mãos. Beijos, mais ou menos só depois de 5 anos de namora. Pegar na mão era um suplício e um crime grave. Só no escurinho do cinema, As meninas não entravam em bar.
Mesmo assim foi uma época áurea que nunca mais voltara!... “Ai que saudades que eu tenho da aurora da minha vida. Eu era feliz e não sabia !...”
Após essas divagações necessárias, voltemos à missa: o padre ficava de costas para os fiéis, a língua empregada era o latim, A última flor do Lácio inculta bela, mas mesmo assim todo mundo participava.com fé, amor, com um olho em Deus e outro nas garotas.
Chegava o epílogo da missa – Ite missa est. Deo Grácias!
A era chegado o momento de a rapaziada ficar no adro da igreja, vendo o desfile dos “brotinhos” (era assim que se chamava as gatas da época). E elas caprichavam. Feminilidade não faltava. Discrição mas sem deixar de lado certa malícia. Olhares dirigidos aos futuros candidados. As meninas iam na frente e os rapazes iam atrás embasbacados de tanto amor prá dar e a dificuldade de ao menos dirigir uma palavra à candidata..
Era hora de parar no Grupo de Cima, que servia de Colégio, para a reunião do Grêmio (que depois passou a União dos Estudantes Secundários de Alvinópolis) e quando se discutiam assuntos de interesse estudantil, polêmicas sobre o português e onde se discutiam os interesses da classe estudantil, debatiam-se temas pré definidos. O Sr. José Rodrigues Júnior, o saudoso Zizi, pessoa que faz falta em Alvinópolis até hoje, dava o show, ao apartear oradores e apontar os erros de português que cometiam. Nisto ele era implacável – E INESQUECÍVEL...
Após os debates e esgotado o temário da reunião, era o momento de se distribuir “O MARRETA” JORNAL LITERÁRIO DO GRÈMILO LÍTERO ESPORTIVO PROFESSOR POLICARPO MOREIRA, satírico e informativo da vida estudantil de Alvinópolis. Nele havia artigos escritos pelos intelectuais da época, Ozanan, Rafael, Modestino, Zizi e muitos outros e colunas de fofoca sadia estudantil, coisas que chateiam, coisas que agradam, e, ainda, as “má – notas” que os estudantes de Alvinópolis davam fora e dentro da cidade.
Encerrava-se a parte sacro-cultural e partia-se para a parte profana: horas dançantes no Industrial, onde se podia se pegar nas mãos das belas pretendidas, dançar de rosto e corpo colado sem nenhuma censura de ninguém (até hoje não entendo o porquê dessa permissividade). E tudo isso ao som do toca disco do Albino da Acar e o João Cirino: Perfume de Gardênia de Bienvenido Gandra, Oracion Caribe. OH! CAROL, DIANA, ONLY YOU. Também na moda estava o Elvys Presley, Neil Sedaka, Os Beatles, Ray Charles, Jim Morrissom, Nat King Cole. Paul Anka, Etc. A década de 60 foi uma da mais alvissareiras em músicas, canções e cantores.
A musica POP explodia em criatividade. O clímax era atingido quando se tocava a canção El Reloj, que fazia muitos rapazes, por um motivo ou outro, verter lágrimas de amor ou de saudade de algum ente querido.
Às Vezes, antes da hora-dançante, os rapazes tomavam um gole no Bar do Nilo para se encorajar, pois quem tinha de tirar a garota para dançar era ele. E tomar um “peru” era o fim do mundo.
Essas reminiscências servem para mostrar a juventude atual como foi uma pequena partícula de nossas vidas.
Nada mais que hoje. Nada mais que ontem. Só a ousadia e a liberdade é que imperam
Havia ainda à noite, três salas de cinema, horas dançantes noturnas e os namoros dentro do cinema. ESSA FOI PARTE DE NOSSA VIDA!
Como vocês puderam depreender, nossa adolescência foi muito sadia, sem deixar de incluir o amor, que é a mola mestra do mundo!

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